quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Obra a ser analisada: Residência em Chestnut Hill, Pa. Venturi e Rauch, 1962.

A casa que apresenta alguns elementos formais não convencionais das casasde hoje, pode causar estranheza em um primeiro momento, mas por meio uma análise das teorias de Robert Venturi, podemos entender melhor o que o arquiteto propunha como um modelo do que ele acreditava ser o mais correto tanto na arquitetura, como no urbanismo, que se encaixava na arquitetura pós-moderna.

Esta casa construída para sua mãe em Chestnut Hill, em 1962, é descrita em seu livro “Complexidade e Contradição em Arquitetura”, e faz parte de toda a discussão de um primeiro momento das teorias do autor. Para Venturi ela é capaz de reconhecer as complexidades e contradições por: ser complexa e ao mesmo tempo simples, tendo a capacidade de se resolver por meio de uma unidade de um número médio de diferentes partes, ao invés de muitas ou poucas partes; apresentar uma combinação de elementos genéricos da casa em geral e os circunstanciais de uma casa particular; e ser aberta e fechada, tornando-a simples e complexa.

Os formatos distorcidos e a inter-relação dos espaços internos indicam uma complexidade alcançada pelo arquiteto, que é própria do programa doméstico, com extravagâncias inadequadas a uma residência individual. Essa complexidade e distorção é contida por meio da forma exterior da casa, simples e concisa, e que representa a escala pública da casa, como observa o arquiteto.




A relação entre interior e exterior se da por meio de uma certa contradição, que não é total, onde o interior absorve em sua planta a simetria do exterior; e na parte externa ocorre a reflexão da parte interna distorcida do interior. Os diferentes locais, formatos e tamanhos das janelas e a chaminé descentralizada no exterior da casa, contradizem a simetria geral da forma exterior.

Ao chamar a obra de aberta e fechada, Venturi acaba por se referir as características contraditórias das fachadas externas: a forma consistente das paredes remete a idéia de fechamento, que é contrabalanceada pelas aberturas que interrompem esse fechamento.
Possui uma planta simétrica, onde encontra-se um núcleo central vertical, de onde surge duas paredes diagonais separadas quase simétricas, que separam o espaço na frente de um espaço central nos fundos; essa separação quase Palladiana, como coloca Venturi é distorcida pelo programa interno da casa, onde de um lado é a cozinha e do outro é o dormitório, ou seja, o programa quebra essa rigidez danado um tom de complexidade na concepção da casa.

Através da sua teoria fundamentada na poética, na semiótica, e em outras linguagens como já foi dito, Venturi faz uma leitura da composição central da casa, onde a lareira-chaminé e a escada competem por fazerem parte dessa centralidade, ambos em sua essência, uma sólida e outra vazia, onde a escada se contrai por causa do outro duplo elemento, que acaba por se deslocar, proporcionando uma dualidade do núcleo central. Essa mesma competição central aparece na entrada onde a escada – que tem uma base mais larga do que seu final -, solitária e desfavorecia quanto ao uso dos cômodos, se adapta ao complexo e contraditório, pois ao colocar uma cadeira no pé da escada o arquiteto torna o local com um uso significativo.

Quanto à implantação da casa, é feita como um pavilhão, concentrada no centro do terreno plano, fechado em seus limites com árvores e cercas; onde o acesso por carros também é pensado de maneira não simples, sendo distorcido em sua posição perpendicular ao centro da casa.

Os principais elementos da casa: curvas, diagonais e retangulares, são pensados empregados cada um a um simbolismo característico. Os retângulos são elementos dominantes no espaço, as diagonais referem-se de maneira direcional na entrada e determinam o fechamento e escoamento das águas do telhado; por fim as curvas que se relacionam com as direções espaciais e simbolismo da entrada.

Ao finalizar a leitura crítica de sua própria obra, Venturi ressalta que a complexidade e contradições encontradas propositalmente, não entram em harmonia de uma maneira rápida, por uma simples exclusão baseada no “menos é mais”; e sim através da opção de se obter, por mais trabalhoso que fosse, a unidade de um número médio que reconheceria a diversidade, utilizando-se assim da máxima da sua critica ao moderno.

Já para o olhar crítico de Otília Beatriz Fiori Arantes a casa, ao ser vista ao fundo da fachada publicitária da Strada Novissima, causa um contraste de opostos, com uma cisão entre fachada-símbolo, a publicitária a frente que Venturi diz ser “figura simbólica” da casa, tida por ela como um desenho infantil, e a “forma-construção” da casa ao fundo.

Ainda em seu livro “O lugar da arquitetura depois dos modernos”, a escritora diz que o arco da fachada, usado por Venturi como reminiscência ou uma lembrança local, é reduzido em uma função simbólica, apenas desenhado sobre o quadrado que marca a entrada , deslocada e com sua porta recuada em relação a fachada, que se transforma com um significado neutro e liberado.

A simetria das janelas usada na fachada principal, não acontece de maneira convencional, mas por um balanço entre a extensa janela horizontal da direita e o peso da janela maior à esquerda, e por se equivalerem numericamente, por serem distribuídos de maneira desigual. As demais fachadas, não menos “complexas e contraditórias”, alternam as diagonais do telhado, planos e volumes e os arcos, que são ora janela, ora forma; o que ocorre também no interior da casa: planos e espaços se contradizem e se equilibram.