quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Robert Venturi

Nascido na Philadelphia em 1925, Robert Venturi é arquiteto e professor da Universidade da Pensilvânia e da Universidade de Princeton, já tendo trabalhado com Eero Saarinen e Louis I. Khan. Vencedor do Prêmio Pritzker de 1991, o arquiteto em 1964 montou o escritório Venturi & Rausch, que mais tarde tornou-se o que é hoje Venturi & Scott Brown Associates (VSBA), em sociedade com sua esposa Denise Scott Brown. Venturi é considerado um dos principais teóricos pós-modernos, inaugurando a crítica norte-americana, a hegemonia da corporação modernista, sendo um dos primeiros a se desconectar do Movimento Moderno, e resgatando os antecedentes históricos.

Depois de alguns anos estudando arquitetura antiga ele volta aos EUA, onde inicia sua carreira e suas criações projetuais e teóricas. Em sua teoria a forma tem o papel de informar por meio de algum elemento decorativo, e não deve apenas figurar; tornando-se assim o símbolo gráfico ao usar letreiros, fachadas distintas do corpo do edifício, concebidas como painéis.


Para Venturi os símbolos fazem parte do dia-a-dia da cidade, e isso deve ser considerado e trabalhado nos projetos, o que no modernismo não é levado em consideração; e ainda com a influencia que recebe da semiótica, tenta recuperar uma função simbólica da arquitetura. Ao rejeitar a simplicidade do modernismo e responder à máxima de Mies van der Rohe: "Menos é mais", Robert Venturi é conhecido por dizer: "Menos é um furo"; o que deixa explicita a sua idéia de que as soluções simples, não resolvem as necessidades da sociedade complexa.


Ainda que o arquiteto tenha projetado inúmeros edifícios nos Estados Unidos, Europa e Japão; é mais conhecido por suas polêmicas teorias, consideradas por alguns críticos como responsáveis por uma estética populista do pós-modernismo arquitetônico.

A todas essas características que Venturi atribui na sua postura em quanto arquiteto, podemos separar dois períodos de teorias e projetos, assim como propõe Otília, que se distinguem, demarcados com a criação das obras: “Complexidade e Contradição em Arquitetura” e “Aprendendo em Las Vegas”. Onde enquanto temos um “primeiro” Venturi complexo e contraditório que lança uma sobriedade inventiva, no “segundo” essa sobriedade é abandona, fazendo uma releitura do passado que a sociedade de consumo sobrepôs sobre a antiga.


Para entendermos melhor o que tornou Robert Venturi um dos pioneiros das discussões do pós-modernismo, analisaremos a seguir as duas “fases” do arquiteto, com suas obras: “Complexidade e Contradição em Arquitetura” e “Aprendendo em Las Vegas”; e um projeto que foi usado aqui para exemplificar uma deles. Essas análises serão feitas a partir de visões criticas como as de Otília Arantes, Kate Nessbitt, Juergen Habermas e a própria do arquiteto.

"Complexidade e Contradição em Arquitetura"

Foi publicado em 1966 pela primeira vez pelo Museu de Arte Moderna em Nova York e também foi promovido pelo MOMA em 1932. “Complexidade e Contradicao em arquitetura” é considerado um livro americano, pluralista e fenomenológico em seu método, em que por meio de seu caráter humanista, valoriza as ações do homem e o efeito das formas físicas em seu espírito.

Segundo Kate Nesbitt em “Uma nova agenda para a arquitetura”, no livro de Venturi é mostrado que o problema da arquitetura e do urbanismo modernista era serem enfaticamente reducionistas, resolvendo os problemas de maneiras à limitá-los, por meio de soluções puras e tediosas. Embora esta simplificação resultasse em alguns belos edifícios, o maior resultado do modernismo foi uma suavidade excessiva, como Robert Venturi o propõe na sua reformulação da frase de Mies van der Rohe: "Menos é um tédio". O arquiteto coloca ainda em seus textos, que a arquitetura moderna não esta à altura da arte e da ciência desse período, a qual tem a problemática da complexidade e contradição.

Para resolver os problemas que encontra no moderno, o arquiteto propõe o exercício da inclusão, que conduz a uma ampla interpretação, com elementos de dupla função, reforçando sua teoria de que mais não é menos. A sua teoria é afirmada pelos princípios da semiótica, pelo valor poético que a ambigüidade atinge, e por meio do significado da arquitetura pautada na história da disciplina.

Uma das principais críticas de Venturi nessa obra é feita ao edifício modernista de esqueleto de aço e revestimento em cortina de vidro, com sua estrutura independente da vedação; que deveria reintegrar as essas funções, fazendo o uso, por exemplo, da parede portante.

Agora, de acordo com Otlília Arantes, a teoria de Robert Venturi contribuiu para renovação da consciência na história, ou uma adesão a ela, o que é uma característica do pós-moderno, em divergência ao moderno; ao estimular a apropriação eclética da história, centrada nas imagens. Para ela, o livro mostra um caráter híbrido e por vezes equivocado das grandes obras do passado, que diferencia-se do programa de clareza e homogeneidade do moderno.

Ainda segundo a escritora, Venturi atento aos procedimentos, materiais e soluções construtivas da tradição, escreve um manifesto "suave" contra o que ele chamou de "a língua puritanamente moral" do modernismo tardio. Ela também, a fala de Venturi, onde afirma que os modernistas simplificavam e clarificaram a arquitetura, a ponto de destacá-lo "a partir da experiência de vida e as necessidades da sociedade". Como se sabe o modernismo tinha evitado referência histórica, afirmando que no passado era irrelevante para para as preocupações de sua arquitetura, mas Robert Venturi, acaba por encontrar lições ricas em todo o “leque” de arquitetura do mundo, e ilustra teorias usando exemplos de vários períodos e estilos.

Assim como seus edifícios, este livro se opõe ao que muitos considerariam as opiniões institucionalizadas e tem por objetivo visar às condições concretas que deveriam estar na base dos projetos arquitetônicos, como: as ambiguidades, que algumas vezez não são nada atrentes, que os arquitetos se vêem enfrentam ao longo da sua criação. O arquiteto proporciona a combinação de surpresa com a tradição, como por exemplo, em seu projeto da Casa Vanna, onde inclui várias referências: cabendo sugestões de Michelângelo,Porta Pia em Roma, o Nymphaeum de Palladio, Villa Alessandro Vittoria do Barbaro em Maser, e a casa de Luigi Moretti seu apartamento em Roma.

Assim como a Casa de Vanna, o Venturi constrói várias outras casas similares, que não fazem parte de um processo de simplificação, mas tem unidade e precisão. E uma representante desse processo, que esta no contexto do estudo da obra “Complexidade e Contradição em arquitetura” é a Residência em Chestnut Hill, que será analisada adiante.

Obra a ser analisada: Residência em Chestnut Hill, Pa. Venturi e Rauch, 1962.

A casa que apresenta alguns elementos formais não convencionais das casasde hoje, pode causar estranheza em um primeiro momento, mas por meio uma análise das teorias de Robert Venturi, podemos entender melhor o que o arquiteto propunha como um modelo do que ele acreditava ser o mais correto tanto na arquitetura, como no urbanismo, que se encaixava na arquitetura pós-moderna.

Esta casa construída para sua mãe em Chestnut Hill, em 1962, é descrita em seu livro “Complexidade e Contradição em Arquitetura”, e faz parte de toda a discussão de um primeiro momento das teorias do autor. Para Venturi ela é capaz de reconhecer as complexidades e contradições por: ser complexa e ao mesmo tempo simples, tendo a capacidade de se resolver por meio de uma unidade de um número médio de diferentes partes, ao invés de muitas ou poucas partes; apresentar uma combinação de elementos genéricos da casa em geral e os circunstanciais de uma casa particular; e ser aberta e fechada, tornando-a simples e complexa.

Os formatos distorcidos e a inter-relação dos espaços internos indicam uma complexidade alcançada pelo arquiteto, que é própria do programa doméstico, com extravagâncias inadequadas a uma residência individual. Essa complexidade e distorção é contida por meio da forma exterior da casa, simples e concisa, e que representa a escala pública da casa, como observa o arquiteto.




A relação entre interior e exterior se da por meio de uma certa contradição, que não é total, onde o interior absorve em sua planta a simetria do exterior; e na parte externa ocorre a reflexão da parte interna distorcida do interior. Os diferentes locais, formatos e tamanhos das janelas e a chaminé descentralizada no exterior da casa, contradizem a simetria geral da forma exterior.

Ao chamar a obra de aberta e fechada, Venturi acaba por se referir as características contraditórias das fachadas externas: a forma consistente das paredes remete a idéia de fechamento, que é contrabalanceada pelas aberturas que interrompem esse fechamento.
Possui uma planta simétrica, onde encontra-se um núcleo central vertical, de onde surge duas paredes diagonais separadas quase simétricas, que separam o espaço na frente de um espaço central nos fundos; essa separação quase Palladiana, como coloca Venturi é distorcida pelo programa interno da casa, onde de um lado é a cozinha e do outro é o dormitório, ou seja, o programa quebra essa rigidez danado um tom de complexidade na concepção da casa.

Através da sua teoria fundamentada na poética, na semiótica, e em outras linguagens como já foi dito, Venturi faz uma leitura da composição central da casa, onde a lareira-chaminé e a escada competem por fazerem parte dessa centralidade, ambos em sua essência, uma sólida e outra vazia, onde a escada se contrai por causa do outro duplo elemento, que acaba por se deslocar, proporcionando uma dualidade do núcleo central. Essa mesma competição central aparece na entrada onde a escada – que tem uma base mais larga do que seu final -, solitária e desfavorecia quanto ao uso dos cômodos, se adapta ao complexo e contraditório, pois ao colocar uma cadeira no pé da escada o arquiteto torna o local com um uso significativo.

Quanto à implantação da casa, é feita como um pavilhão, concentrada no centro do terreno plano, fechado em seus limites com árvores e cercas; onde o acesso por carros também é pensado de maneira não simples, sendo distorcido em sua posição perpendicular ao centro da casa.

Os principais elementos da casa: curvas, diagonais e retangulares, são pensados empregados cada um a um simbolismo característico. Os retângulos são elementos dominantes no espaço, as diagonais referem-se de maneira direcional na entrada e determinam o fechamento e escoamento das águas do telhado; por fim as curvas que se relacionam com as direções espaciais e simbolismo da entrada.

Ao finalizar a leitura crítica de sua própria obra, Venturi ressalta que a complexidade e contradições encontradas propositalmente, não entram em harmonia de uma maneira rápida, por uma simples exclusão baseada no “menos é mais”; e sim através da opção de se obter, por mais trabalhoso que fosse, a unidade de um número médio que reconheceria a diversidade, utilizando-se assim da máxima da sua critica ao moderno.

Já para o olhar crítico de Otília Beatriz Fiori Arantes a casa, ao ser vista ao fundo da fachada publicitária da Strada Novissima, causa um contraste de opostos, com uma cisão entre fachada-símbolo, a publicitária a frente que Venturi diz ser “figura simbólica” da casa, tida por ela como um desenho infantil, e a “forma-construção” da casa ao fundo.

Ainda em seu livro “O lugar da arquitetura depois dos modernos”, a escritora diz que o arco da fachada, usado por Venturi como reminiscência ou uma lembrança local, é reduzido em uma função simbólica, apenas desenhado sobre o quadrado que marca a entrada , deslocada e com sua porta recuada em relação a fachada, que se transforma com um significado neutro e liberado.

A simetria das janelas usada na fachada principal, não acontece de maneira convencional, mas por um balanço entre a extensa janela horizontal da direita e o peso da janela maior à esquerda, e por se equivalerem numericamente, por serem distribuídos de maneira desigual. As demais fachadas, não menos “complexas e contraditórias”, alternam as diagonais do telhado, planos e volumes e os arcos, que são ora janela, ora forma; o que ocorre também no interior da casa: planos e espaços se contradizem e se equilibram.
















 










Bibliografia

ARANTES, Otília. O Lugar da Arquitetura depois dos Modernos. São Paulo: Edusp/Estúdio Nobel, 1993.

NESKITT, K.(org) Uma nova agenda para a arquitetura: antologia (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify, 2006.

VENTURI, R. Complexidade e contradição na arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1995. Edição original de 1966.

www.moma.org/collection/
www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha102.asp